Medicina da família: aposta de planos de saúde para reduzir custos 


Administradoras criticam excesso de exames desnecessários e falta de capacitação dos médicos
Um modelo baseado na atenção primária à saúde, no qual o paciente é recebido no sistema por um médico da família, é uma das principais ações de planos de saúde para cortar custos e desperdícios.
Na atenção primária, também chamada de cuidado integral, o paciente ganha cuidados iniciais antes de ser encaminhado a especialistas. O pedido de exames é feito com menor frequência dentro do modelo, que privilegia prevenção e educação em saúde.

Hoje, o beneficiário é submetido a consultas com baixa efetividade e pedidos de exames desnecessários, na avaliação de Alberto Gugelmin Neto, vice-presidente da Unimed do Brasil. Cerca de 70 unidades da Unimed de diversas partes do país já adotam o modelo, visto como um aposta de sustentabilidade para o futuro.

A Amil é outra operadora que investe na expansão da estratégia. Os cuidados primários, hoje prestados apenas por clínicas próprias da empresa, passarão a ser feitos em breve também por consultórios credenciados, aumentando o número de pessoas atendidas, segundo Alexandre Rosé, diretor de serviços clínicos da companhia.

“Nossos resultados mostram que 84% das demandas que chegam à atenção primária são resolvidas antes que passem para outros níveis”, disse.

Os dois executivos participaram do debate sobre propostas para reduzir custos e desperdícios da medicina privada durante o 2º fórum Saúde Suplementar, realizado pela Folha nesta quarta-feira (5), em São Paulo.

Para José Cechin, diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), além de procedimentos desnecessários, a negligência e a falta de capacitação, que levam a cirurgias e consultas mal feitas, oneram ainda mais o sistema.

Cechin criticou ainda a remuneração baseada em quantidade de procedimentos. “Há uma supervalorização dos exames por causa da insegurança do médico. Esse modelo de pagamentos privilegia a quantidade, não a qualidade. O médico precisa ser treinado na área de custos.”

Uma das maiores dificuldades para a implantação da medicina da família é a baixa adesão dos médicos. Segundo dados do Ministério da Saúde, das 3.587 vagas autorizadas para ingresso na residência em medicina da família neste ano, só 1.183 foram preenchidas (33%).

Para mudar o modelo vigente, dependente da venda de materiais e medicamentos, as administradoras devem dar aos hospitais a possibilidade de gerar receita com a prestação de serviços, declarou Gugelmin  Neto, da Unimed.

Mas uma outra figura não pode ser alijada desse processo, afirmou Juliana Pereira, diretora-executiva de clientes da Qualicorp: o cliente. Dialogar com ele pode tornar o plano de saúde mais eficiente e ajuda a evitar ações judiciais. “O consumidor é protagonista da sua saúde, ele não é apenas a pessoa que paga o boleto”, afirmou Juliana.

Fonte: Folhapress