A escolaridade e a renda 

A experiência internacional indica uma forte correlação entre escolaridade e renda do trabalho, o que se verifica mesmo em países com realidades sociais muito díspares. O aumento dos anos de estudos facilita o acesso a melhores oportunidades de trabalho e possibilita maiores rendimentos. Recentemente, estudo do Banco Central avaliou a incidência desse fenômeno no Brasil, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Ao analisar os efeitos da evolução da escolaridade brasileira sobre os rendimentos do trabalho, constatou-se que, entre 2012 e 2018, houve um acréscimo médio de 12% sobre a renda por força do aumento dos anos de estudo.

É notável a evolução da escolaridade brasileira nas últimas décadas. Entre 1992 e 2018, a média dos anos de estudo da população ocupada passou de 5,8 anos para 9,9 anos. O Banco Central destaca a significativa diminuição das diferenças de anos de estudo entre as regiões do País. No Nordeste, que tem o indicador mais baixo, a média passou de 4,2 anos para 9 anos no período. O Sudeste, cuja população ocupada tem o maior número de anos de estudo, apresentou em 2018 uma média de 10,4 anos de estudo. Observa-se também maior homogeneidade entre o tempo de estudo nas regiões metropolitanas (de 7,1 anos para 10,9 anos) e os das regiões não metropolitanas (de 5,1 anos para 9,4 anos).

O aumento médio do tempo de estudo pode ser confirmado pela mudança do perfil da população ocupada por grau de instrução. Em apenas seis anos, o porcentual de pessoas com nível superior cresceu de 15% para 20,1%.
A relação entre grau de instrução e rendimentos do trabalho é “positiva e não linear. Os ganhos pela conclusão dos níveis educacionais – fundamental, médio e superior – são crescentes, sobressaindo o do nível superior”, afirma o Banco Central. No ano passado, estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ao comparar em 38 países o acréscimo salarial gerado pela conclusão do ensino superior, afirmou que o Brasil tinha o maior indicador. Quem tinha ensino superior ganhava cerca de 150% a mais que os trabalhadores com diploma de ensino médio.

A partir dos dados da Pnad, o estudo do Banco Central constatou que, em relação a um trabalhador sem instrução, o nível fundamental adiciona em média 38% ao rendimento por hora; o ensino médio, 66%; e o superior, 243%. “A diferença entre dois níveis subsequentes pode ser interpretada como vantagem pelo grau de instrução. O nível médio acrescenta 20% e o superior, cerca de 107%”, afirma o estudo.

O Banco Central ressalta, no entanto, que a comparação direta dos rendimentos médios por grau de instrução deve ser feita com cautela, já que outros fatores – como os anos de experiência, o total de horas trabalhadas ou a existência de vínculo formal de trabalho – também afetam os rendimentos.

É interessante notar que também esses outros fatores sofrem influência do grau de instrução. Por exemplo, o tempo de experiência faz aumentar o rendimento para todos os níveis de escolaridade. No entanto, esse fator tem mais influência sobre a renda dos trabalhadores com nível superior, em que cada ano de experiência agrega em média 1,7% ao rendimento por hora. O acréscimo por ano de experiência nos outros graus de instrução é de 1,0%.

A relação entre escolaridade e renda do trabalho é mais um dado, entre tantos, a reforçar o caráter fundamental da educação para o desenvolvimento econômico e social do País. Se nas últimas décadas houve expressivo aumento dos anos de instrução da população – o que deve ser valorizado e protegido, sem permitir retrocessos –, é imprescindível enfrentar o desafio da qualidade da educação, muito especialmente a da educação pública, que forma a grande maioria das crianças e adolescentes. Em vez de perder tempo com polêmicas ideológicas, o governo deve trabalhar para assegurar, junto com os Estados e municípios, um novo patamar de aprendizado no ensino fundamental e no médio.   Fonte: Agência Estado